segunda-feira, 16 de março de 2009

LULA NOGUEIRA um Naïf das Alagoas



PROJETO NAÏFS DO NOSSO BRASIL


LULA NOGUEIRA

Um naïf das Alagoas




O MIAN criou vários Projetos diferentes para incentivar os artistas naïfs brasileiros e divulgar o trabalho deles, porque é indispensável valorizar esta expressão mais genuína da arte brasileira. Entre esses Projetos está o NAÏFS DO NOSSO BRASIL, que apresenta artistas de diferentes Estados, em exposições individuais, para que o grande público possa conhecer melhor as várias facetas da arte naïf brasileira.

Iniciado em 1998, com a artista naïf paulista Aparecida Azedo, na exposição A magia das cores da natureza, o Projeto trouxe em seguida o colorido forte e a temática nordestina do pernambucano Gilvan, Um pintor que canta e encanta. O terceiro artista da série foi o baiano Telmo Carvalho, médico pediatra, que fez a exposição Um coração entre o Rio e a Bahia. O embaixador Ovídio de Andrade Melo, que se assina Juca, trouxe as pinceladas críticas e irreverentes do seu O pincel do Brasil profundo. Fábio Sombra, pintor e guia de turismo, foi o quinto artista a se apresentar no Projeto, cantando as belezas do Rio, na exposição E o Rio de Janeiro continua lindo. Trabalhando com maestria as formas esculpidas em papier machê, a carioca Eda Vianna foi a artista escolhida para a sexta exposição, Formas e cores do Brasil.

O Brasil é um celeiro inesgotável de artistas naïfs. Na maioria autodidatas, como seus irmãos, os artistas populares, os naïfs se diferenciam totalmente desses últimos porque criam obras únicas, não repetidas, assinadas, que não têm nada a ver com o artesão, mas sim com o artista, na plena acepção da palavra.

Para dar continuidade ao Projeto NAÏFS DO NOSSO BRASIL, ninguém melhor que o alagoano Lula Nogueira, um artista versátil que encontrou a sua expressão mais autêntica como naïf. Lula Nogueira passou os últimos dois anos trabalhando no levantamento das várias manifestações populares de seu Estado: as danças e cantos, as várias formas de expressão plástica. Conheceu artistas, artesãos, músicos, rendeiras, fotografou-os em verso e prosa, gravou-os, emocionou-se com a riqueza da arte popular das Alagoas.

O INÍCIO NA INFÂNCIA


Luiz Nogueira Gomes nasceu em Maceió, em 1960. Lembra-se de pintar desde criança. Começou com dez anos de idade, retratando os cortadores de cana, as estações de trem, as cenas do cotidiano da fazenda do avô no interior. Tudo isso pintado a guache em cadernos de desenho. Ao mesmo tempo, tinha um verdadeiro “museu” no seu quarto. Colecionava objetos, pedaços de fantasias, postais, pendurava-os pelas paredes, improvisava as primeiras colagens.

O artista Pierre Chalita, amigo da família, viu seus desenhos e recomendou que lhe dessem telas, tintas, pincéis. Aos onze anos ingressou no curso de pintura de Vânia Lima, onde aprendeu a trabalhar com outras técnicas, como o fusain, o óleo, o nanquim, etc.

Aos quatorze anos foi para Recife cursar o segundo grau. Era hábito das famílias nordestinas mandar os filhos para Recife, onde o secundário era mais exigente, como um meio de prepara-los para o vestibular. Lula profissionalizou-se em desenho arquitetônico, o que despertou seu interesse pelo patrimônio artístico e cultural do Nordeste.

Lula escolheu Engenharia, levou nove anos para concluir o curso, com várias interrupções. Nesses intervalos, viajou para os Estados Unidos, França, entre outros países. Porém nunca desistiu da arte. Aos dezenove anos fez oito meses de curso no ateliê de Pierre Chalita. Mas seu espírito irrequieto queria mais, conhecer novas técnicas, experimentar outros materiais. Sua primeira exposição foi aos vinte anos, na cidade de Marechal Deodoro. Pintava sanfoneiros, pastoris, gaiolas de pássaros, casarios, lembranças da infância.

Em 1981, abriu a Graffitti Galeria, inaugurada com sua segunda individual, que teve como tema as rendeiras e a vida das lagoas. Expôs vários artistas alagoanos e nordestinos, entre eles alguns naïfs: José Joaquim, Vicente Ferreira, Fernando Lopes, Edgard Bastos, Renan Padilha. Porém a atividade de galerista não lhe deixava tempo para pintar. Depois de três anos, desistiu do estresse de ser marchand e ligou-se aos grupos de jovens artistas que reivindicavam mais espaço para sua arte: Grupo Vivarte (1985) e Cruzada Plástica (1987).

A partir daí, sempre pesquisando novos temas e técnicas, participou de várias mostras: em 1987 expôs monotipias aquareladas; em 1988, numa série ecológica, começou a fazer colagens, inserindo na pintura, inserindo nas pinturas alguns objetos, anúncios e recortes; em 1991, homenageou os antigos cinemas das Alagoas.

Terminado o curso de Engenharia, foi para Belo Horizonte fazer uma especialização em Urbanismo por dois anos. “Urbanismo me parecia a vertente da Engenharia mais ligada com a arte”, diz Lula. Aproveitou intensamente a temporada mineira: conheceu as cidades históricas e seus tesouros e aprendeu gravura em metal na Escola Guignard.


A VOLTA AO INÍCIO


Em 1993, Lula Nogueira fez sua terceira exposição individual. Os temas e a concepção dos quadros eram naïfs, as colagens ganharam mais espaço nos seus trabalhos que resgatavam memórias da antiga Maceió. Depois disso, participou da mostra Arte Alagoas na Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro, além de várias coletivas em Aracaju, Recife e Penedo. Em 1994, foi um dos curadores do catálogo Arte Alagoas II, que reúne cerca de cem artistas plásticos alagoanos dos mais diversos estilos.

Pode então perceber o preconceito dos críticos e das pessoas em relação à arte naïf. Muitos o criticaram abertamente pela sua pintura. Foi a psicanálise que o ajudou a confirmar a sua definição.

“A pintura naïf me proporcionou esse mergulho interior, o mergulho na infância, conta Lula. Sem me dar conta, passei a pintar cenas que eu vivi aos dez, doze anos. Era minha história que vinha à tona.O litoral e a zona da mata alagoanos eram muito ricos em folclore. Tudo isso me ajudou a encontrar minhas raízes.”

Dessas raízes começaram a brotar os personagens e paisagens da infância: as tias-avós, que foram suas primeiras professoras, a dona da venda, as fofoqueiras, os engenhos, o Nordeste antigo das fazendas de cana, as festas folclóricas e religiosas, o Brasil caboclo.

O trabalho de levantamento da arte popular de Alagoas – que resultou num livro organizado por Tânia de Maya Pedrosa – abriu para Lula o contato mais profundo com o saber do povo: reconhecer os pios dos pássaros, as artimanhas da pesca, os cantos e danças que se vão perdendo com a chegada do progresso e da modernidade. “Para mim, pintar é também recriar esse mundo perdido”, diz Lula.

Confiante no que fazia, Lula entregou-se ao trabalho com o ardor dos primeiros tempos. Surgiram biombos, retábulos, almofadas, reutilizando diversos objetos como novos suportes. E as colagens foram se firmando cada vez mais, meio por acaso. Ele sente que incluir esses objetos dá mais veracidade aos quadros, conta melhor aquilo que pretende dizer.

Hoje, Lula Nogueira se refugia muitas vezes em Massagueira, uma vila de pescadores à beira da lagoa Manguaba. Lá, encontra seus temas preferidos, a natureza da região os pescadores, a gente simples do lugar que são os melhores críticos da sua arte, pois a vêem com os olhos do coração e não do intelecto. No ano de 2000, Lula fez sua quarta individual, comemorando vinte anos de pintura, na Galeria SESC-AL, numa noite bastante animada, que contou com a apresentação do músico popular Nelson da Rabeca.

Ao convidar Lula Nogueira para mostrar suas obras, o MIAN homenageia não apenas a criatividade do artista naïf alagoano identificado com a sua terra e a sua gente, mas também o pesquisador das cores e dos sons do nosso Brasil caboclo.



Mariza Campos da Paz
Vice-presidente da Fundação Lucien Finkelstein



PROJET NAÏFS DE NOTRE BRÉSIL



LULA NOGUEIRA

Un naïf des Alagoas



Le MIAN a créé divers Projets différents pour stimuler les artistes naïfs brésiliens et divulguer leurs oeuvres, parce qu’il est indispensable de valoriser cette expression la plus authentique de l’art brésilien. Parmi ces Projets, le NAÏFS DE NOTRE BRÉSIL présente des expositions individuelles d’artistes de différentes régions, afin que le grand public puisse mieux connaître les diverses facettes de l’art naïf brésilien.

Inauguré en 1998, avec l’exposition La magie des couleurs de la nature de l’artiste naïve «paulista» Aparecida Azedo, le Projet présenta ensuite la thématique du Noreste et les fortes couleurs du «pernambucano» Gilvan, Un peintre qui chante et enchante. Le troisième de la série fut le bahianais Telmo Carvalho, médecin pédiatre, avec son exposition intitulée Un coeur entre Rio et Bahia. L’ambassadeur Ovídio de Andrade Melo, qui signe Juca, nous montra son sens critique et irrévérencieux lors de sa présentation Le pinceau du Brésil profond. Fábio Sombra, peintre et guide touristique, le cinquième artiste présenté par le Projet, nous enchanta avec ses belles vues de Rio, lors de la montre Et Rio de Janeiro continue d’être beau. Sculptant avec brio ses formes en papier mâché, la carioca Eda Vianna fut l’artiste choisie pour la sixième exposition, Formes et couleurs du Brésil.

Le Brésil est une réserve inépuisable d’artistes naïfs. Autodidactes dans leur majorité, comme leurs frères, les artistes populaires, les naïfs se différencient totalement de ces derniers parce qu’ils créent des oeuvres uniques, non répétées, signées, qui n’ont rien à voir avec l’artisan, mais avec l’artiste, dans la pleine acceptation du mot.

Pour donner suite au Projet NAÏFS DE NOTRE BRÉSIL, le choix se reporta sur l’«alagoano» Lula Nogueira, un artiste versatil dont la façon naïve de s’exprimer est des plus authentiques. Lula Nogueira a travaillé ces deux dernières années sur une étude des différentes manifestations populaires de son État: les chants et danses, ainsi que les diverses formes d’expressions plastiques. Il connut des artistes, des artisans, des musiciens, des dentellières, qu’il enregistra et photographia sous tous les angles, très émotionné en constatant la richesse de l’art populaire des Alagoas.




LE COMMENCEMENT DÈS L’ENFANCE


Luiz Nogueira Gomes est né à Maceió, en 1960. Il se souvient qu’enfant il peignait déjà. Il commença à l’âge de dix ans, reproduisant des coupeurs de canne à sucre, des petites gares, des scènes quotidiennes de la fazenda de son grand père, à l’intérieur des terres. Tout cela peint à la gouache sur des cahiers de dessins. Il possédait aussi, en même temps, un véritable «musée» dans sa chambre. Il collectionnait les timbres, les monnaies, des objets, des fragments de déguisements de Carnaval, des cartes postales, et accrochait tout cela sur les murs, improvisant ainsi ses premiers collages.

L’artiste Pierre Chalita, ami de la famille, vit ses dessins et recommenda qu’on lui donne des toiles, des pinceaux et des tubes de peinture. À onze ans il suivit les cours de peinture de Vânia Lima, où il apprit à se servir d’autres techniques, comme le fusain, l’huile, l’encre de chine, etc.

À l’âge de quatorze ans il alla à Recife poursuivre ses études secondaires. Par tradition, les familles du Noreste y envoyaient leurs enfants parce que les écoles étaient plus exigentes et préparaient mieux les élèves pour les examens d’entrée aux facultés. Ensuite Lula se professionnalisa dans le dessin d’architecture, ce qui déclancha son intérêt pour le patrimoine artistique et culturel du Noreste.

Lula choisit d’être ingénieur civil. Il lui fallut neuf ans pour terminer la faculté, à cause de plusieurs interruptions. Pendant ces intervalles il voyagea aus États-Unis, en France et dans d’autres pays. Mais sans jamais abandonner l’art. À dix-neuf ans il suivit pendant huit mois les cours de l’atelier Pierre Chalita. Mais sa vivacité d’esprit voulait plus, connaître d’autres techniques, essayer d’autres matériaux. À vingt ans il fit sa première exposition individuelle à Marechal Deodoro, ville près de Maceió. Il peignait des joueurs de vièle, des fêtes champêtres, des foires, des cages d’oiseaux, de vieilles batisses, des souvenirs d’enfance.

En 1981, il ouvrit une galerie d’art, la «Graffitti», inaugurée par sa deuxième exposition individuelle, qui avait pour thème les dentellières et la vie dans les régions des lacs. Il y exposa divers artistes des Alagoas et du Noreste, parmi lesquels se trouvaient quelques naïfs : José Joaquim, Vicente Ferreira, Fernando Lopes, Edgar Bastos, Renan Padilha, Roberto Lopes. Mais accaparé par ses activités de galeriste, il n’avait plus le temps de peindre. Au bout de trois années, il abandonna le métier stressant de marchand de tableaux et se lia à des groupes de jeunes artistes revendiquant plus d’espace pour leur art: le Groupe «Vivarte»(1985) et la «Croisade Plastique» (1987).

À partir de là, recherchant toujours de nouveaux thèmes et techniques, il participa à plusieurs expositions : en 1987 il présenta des monotypes aquarellés ; en 1988, une série écologique où il commença à faire des collages et introduisait dans sa peinture quelques objets, annonces et découpures de journaux ; en 1991, il rendit un hommage aux vieilles salles de cinéma de la région. Son diplôme d’ingénieur en poche, il s’en fut à Belo Horizonte, pendant deux ans, faire une spécialisation d’Urbaniste. «L’urbanisme me paraissait le versant de l’ingénierie le plus proche de l’art», dit Lula. Il profita intensément de son séjour dans l’état de Minas Gerais où il visita les villes historiques et leurs trésors et apprit la gravure sur métal à l’ «École Guignard».


LE RETOUR AU COMMENCEMENT


En 1993, Lula Nogueira fit sa troisième exposition individuelle. Les thèmes et la conception des tableaux étaient naïfs; les collages occupèrent plus d’espace dans ses tableaux reproduisant le vieux Maceió. Ensuite il participa à la montre «Art des Alagoas», qui eut lieu à Rio de Janeiro à la «Casa de Rui Barbosa», ainsi qu’à plusieurs exhibitions collectives à Aracaju, Recife et Penedo. En 1994, il fut l’un des curateurs du catalogue «Arte des Alagoas II», qui réunissait une centaine d’artistes plastiques des Alagoas de tous les styles.

C’est alors qu’il constata le préjugé des critiques et des personnes envers l’art naïf. Beaucoup critiquèrent ouvertement sa peinture. La psychanalyse l’aida à soutenir ses convictions:

«La peinture naïve me permit cette introspection intérieure, ce plongeon dans l’enfance, raconte Lula. Sans m’en rendre compte, je peignais des scènes vécues lorsque j’avais dix, douze ans. C’était mon histoire qui revenait à la surface. Le littoral et la zone forestière des Alagoas étaient très riches en folklore. Tout cela m’a aidé à trouver mes racines.»

De ces racines commencèrent à pousser les personnages et paysages de son enfance : les grands-tantes, qui furent ses premières professeurs, la propriétaire de l’épicerie, les cancanières, les sucreries, le Noreste profond des fazendas de canne à sucre, les fêtes folkloriques et religieuses, le Brésil indigène.

Le travail d’étude et de recherche sur l’art populaire des Alagoas – qui s’ensuivit d’un livre organisé par Tânia de Maya Pedrosa – proportionna à Lula un contact plus profond avec la sagesse du peuple : reconnaître les piaillements des oiseaux, les astuces de la pêche, les chants et les danses qui se perdent peu à peu avec l’arrivée du progrès et de la modernité. «Pour moi, peindre, c’est aussi recréer ce monde perdu», dit Lula.

Confiant dans ce qu’il faisait, Lula se dédia à son travail avec l’ardeur des premiers temps. Commencèrent à surgir des paravents, des retables, des panneaux, et divers objets qu’il réutilisait comme nouveaux supports. Et les collages, comme par hasard, se réaffirmèrent de plus en plus. Il sent que l’inclusion de ces objets rend ses tableaux plus véridiques, présente d’une meilleure façon ce qu’il a l’intention de dire.

Aujourd’hui, Lula Nogueira s’isole très souvent à Massagueira, un petit village de pêcheurs au bord du lac Manguaba. Il y trouve ses thèmes favoris, la nature de la région, les pêcheurs, les gens simples du lieu qui sont les meilleurs critiques d’art, car c’est avec les yeux du coeur qu’ils voient et non avec l’intellect. En l’an 2000, Lula fit sa quatrième exposition individuelle, commémorative de ses vingt ans de peinture, à la Galerie SESC-AL, une soirée très animée par la présentation du musicien populaire Nelson da Rabeca.

En invitant Lula Nogueira à montrer ses oeuvres, le MIAN rend hommage non seulement à la créativité de l’artiste naïf des Alagoas, qui s’identifie tant avec sa région et son peuple, mais aussi au prospecteur des couleurs et des sons de notre Brésil indigène.



Mariza Campos da Paz
Vice-présidente de la Fondation Lucien Finkelstein
NAÏFS OF OUR BRAZIL PROJECT



LULA NOGUEIRA

A naïf from Alagoas


The MIAN has created different projects in order to support Brazilian naïf artists and promote their works, since we consider of primary concern to appraise the most genuine expression of Brazilian art. Among these projects, there is the NAÏFS OF OUR BRAZIL, which brings artists from different states in solo exhibits to better present to the public the many aspects of the Brazilian naïf art.

Beginning in 1998 with the exhibit The Magic of the Colors of Nature, by the naïf artist Aparecida Azedo from São Paulo, the Project after brought us the strong colors and the Northeastern motifs by Gilvan from Pernambuco, in his A Painter who Sings and Enchants. The third artist of this series was Telmo Carvalho, a pediatrician from Bahia, who held an exhibit entitled “A Heart between Rio and Bahia. The ambassador Ovídio de Andrade Melo, who signs his works as Juca, brought criticism and irreverence to the tip of his brushes at The Brush that Paints Brazil in-depth. Fabio Sombra, a painter and a tourist guide, was the fifth artist presented by the Project, singing the beauty of Rio at the exhibit entitled Rio de Janeiro is always Beautiful. Using papier marché to work shapes with mastery, Eda Vianna, from Rio de Janeiro was the artist chosen for the sixth exhibit in the Project, with her Shapes and Colors of Brazil.

Brazil is a cornucopia of naïf artists. Mostly self-taught as their colleagues, the popular artists, the naïves totally differ from the latter, for they create unique works that are signed and never repeated, which have nothing to do with the artisan, but with the artist, in this word’s literal meaning.

In order to continue the NAÏFS OF OUR BRAZIL Project, no one could represent a better choice than Lula Nogueira, a versatile artist who found the most authentic expression of his works as a naïf painter. Lula Nogueira spent the last couple of years researching the different popular cultural manifestations in his state: dance, music and the various forms of plastic expressions. He met artists, artisans, musicians, lacewomen, tape-recording their poetry and music, photographing their lives and being touched by the rich popular art from Alagoas.
THE BEGINNING IN HIS CHILDHOOD


Luiz Nogueira Gomes was born in Maceió in 1960. He recalls himself painting since his childhood. He began at the age of 10, depicting sugarcane pickers, train stations and the daily life at his grandfather’s inland farm. All that painted with gouache on drawing books. At the same time, he had a “museum” inside his room, collecting different objects, parts of outfits, stamps, coins and postcards, all hanging up on the walls and, therefore, improvising his first collages.

The artist Pierre Chalita, also a friend of the family, saw Lula’s drawings and recommended to give him canvas, paint and brush. At the age of 11, he joined in a painting course held by Vânia Lima, where he learnt to deal with different techniques, such as fusain, oil and ink, among others.

At 14 years of age, he moved to Recife to start high school. It was common among northeastern families to send their children to study in Recife, where high school was supposed to be tougher in preparing students to college. Lula finished high school as an architectural designer, which aroused his interest by the artistic and cultural patrimony of the Northeast.

While in college, Lula chose engineering, taking nine years to graduate, with long periods of absence. During these times, he traveled to the United States and France, as well as other countries, but never gave up his interest in art. At 19 years of age, he spent eight months in an art course at Pierre Chalita’s studio. His restless mind, however, craved for more knowledge, as he wanted to learn new techniques and experiment with different materials. His first exhibit happened when he was 20 years old, in a small town called Marechal Deodoro. His canvases depicted accordionists, scenes of “pastoril”, bird’s cages, houses, some of his childhood memories.

In 1981, he opened the Graffiti Gallery with his second solo exhibit, which had lacewomen and the life by the lakes as its main motif. He presented different artists from Alagoas, as well as others from the northeastern, some of which were naïf painters: José Joaquim, Vicente Ferreira, Fernando Lopes, Edgard Bastos and Renan Padilha. However, his life as gallery owner did not spare him any time to paint. After three years, he gave up the stressed life as a marchand and joined groups of young artists who claimed more places to show their art: Vivarte Group (1985) and Plastic Crusade (1987).

From that time on, he took part in many events, always searching for new techniques and motifs. In 1987, he exhibited water colored monotypes; in 1988, he began working with collages in an ecological series, placing some objects, ads and cutouts in his paintings; in 1991, he paid tribute to the old movie theatres in Alagoas.
After graduating in engineering, he moved to Belo Horizonte to take his masters in Urbanism, which lasted two years. “Urbanism seemed to me as a ramification of engineering more connected to art”, says Lula. He benefited from his staying in Minas Gerais, visiting the historical cities and learning metal engraving techniques at Guignard School.


BACK TO THE BEGINNING


In 1993, Lula Nogueira held his third solo exhibit. The motifs and the conception in his paintings were all naïf, and the collages gained more space in his works, which rescued memories from his old Maceió. After that, he participated in the “Arte Alagoas”, an art event at Casa Rui Barbosa, Rio de Janeiro, as well as many collective exhibits in Aracaju, Recife and Penedo. In 1994, he was one of the curators responsible for the catalog “Arte Alagoas II” that gathers close to one hundred plastic artists from different styles.

Around this time, he was able to notice some prejudice from the critics and people in general to naïf art. Many were clearly critical about his paintings. Psychoanalysis had an important role in helping him to confirm his choice.

“Naïf painting made me journey to my inmost feelings, my childhood, says Lula. I started painting scenes related to my life when I was ten or twelve years old without even realizing it. It was my own history coming back to life. The coastal region and the inland woods in Alagoas offered a very rich culture. All that helped me to find my roots.”

From these roots, the characters and landscapes from his childhood began to flourish: great-aunts who were his first teachers, the small stores owners, the gossipy women, the mills, the old Northeast full of sugarcane farms, the folkloric and religious parties, the rural side of Brazil.

His research concerning the popular art of Alagoas – which resulted in a book organized by Tânia Maya Pedrosa – brought him a deeper contact with the local people’s wisdom: recognizing the chirp of the birds, the gimmicks of fishing, the songs and dances that disappear as the progress comes along. “In my opinion, painting also means a recreation of this lost world”, says Lula.

Lula dedicated his time to artwork with the same intensity he had in the beginning very confident in what he was doing. He produced partitions, altarpieces and cushions recycling many different objects and using them as new supports. Almost casually, his collages became even more present in his pieces. He feels that adding these objects to his paintings give them more veracity and better express what he wants to show.

Today, Lula often goes to his hideaway in Massagueira, a fishermen villa by the Manguaba lagoon. There, he finds his favorite themes, such as the local nature, the innocent fishermen, who are the best critics of his art, since they don’t analyze it, but feel it. In 2000, Lula had his fourth solo exhibit at the SESC-AL Gallery, a very delightful event where there was also a show by the folkloric musician Nelson da Rabeca.

When inviting Lula Nogueira to show his works, the MIAN pays a tribute not only to the creativity of this naïf artist from Alagoas who is closely connected to his homeland and its people, but also to a researcher of the colors and sounds of our rural Brazil.



Mariza Campos da Paz
Vice-president of the Lucien Filkenstein Foundation

MUSEU INTERNACIONAL DE ARTE NAÏF DO BRASIL
O maior e mais completo do mundo

domingo, 15 de março de 2009

MACEIÓPOLIS / MACEIOCA / MACEIÓTIMA ou o vivartismo insulado de Lula Nogueira

MACEIÓPOLIS / MACEIOCA / MACEIÓTIMA
ou o vivartismo insulado de Lula Nogueira


Ricardo Maia


A obra de Lula Nogueira (1960-), artista-pintor maceioense, é hoje matriz de identidade alagoana. Situando-a em um contexto social mais amplo, ou globalizado, pode-se dizer que ela realiza um movimento dramático de fuga e mal-estar na pós-modernidade.
O que, de maneira alguma, por isso, decresce o seu valor mediante o atual processo de emergência de novas formas de representação artística que se desenvolve em Alagoas. Muito pelo contrário, enfatiza a significância do artista, o caráter dinâmico de suas representações e o desenvolvimento de linguagens artísticas divergentes.
É nessa perspectiva que Lula Nogueira faz a diferença e se constitui numa exceção marcante, pois contraditória ou mesmo hostil ao referido processo – mas nunca antidialógica. E a faz com profundo sentido de outridade que atinge em cheio, e de forma reflexiva, a sociedade alagoana atual. Uma outridade repleta de substância simbólica em meio a uma cultura que celebra a ausência de sentido para alimentar, charmosamente, uma espécie de neurose ideológica ou forma de poluição mental.
Decorrem dessa firme atitude do vivartista, portanto, os poderes figurativos e a força da informação contidos em sua obra a nos evocar a memória. É quando, então, somos estimulados por ela a reencontrar Maceió. Para quê? Para torná-la visível e sabermos como ela cria e transforma a sua atmosfera sócio-histórica.
Tudo isso com a finalidade de conhecê-la e entendê-la melhor em sua especificidade cultural; ou seja: em seus espaços públicos e privados memoráveis, mas já olvidados pela maioria, com seus diferentes personagens urbanos – além, é claro, de suas minorias ou classes sociais presentes em seu cotidiano vasto. Daí porque o artista é reconhecido hoje como “o intérprete da província” (Janayna Ávila, 2008).
Essa busca por um tempo perdido na Maceió de ontem, ou que está se perdendo na de hoje, já vem se manifestando na obra de Lula Nogueira desde a inauguração da Galeria Grafitti, em junho de 1981, quando o artista realizou nesta a sua primeira exposição individual com sucesso.
É assim que ele legitima, através de sua obra, o conhecimento e a crença no local; ao passo que, nesta, estabelece a coerência da informação sobre a “cidade sorriso” e os seus habitantes. Procedimento este que o faz esboçar, como resultado, uma nova imagem de sua realidade historicamente localizada.

Lula Nogueira




LULA NOGUEIRA


O contato direto com o real é qualquer coisa que me parece absolutamente essencial, quase misticamente essencial. Em um sentido quase fisiológico, a verdade, até onde podemos enxergá-la, depende de nos mantermos fiéis à realidade, como Nietzsche falava de se manter fiel à terra.

Marguerite Yourcenar

Desde os primeiros exemplares que dela pude ver, a pintura de Lula Nogueira me atraiu por duas qualidades muito marcantes. A primeira delas foi a fidelidade do artista a sua própria história afetiva e, conseqüentemente, à sua gente e à sua província, o que o torna um memorialista pleno de sons e sabores.
A outra de suas características que me chamaram a atenção foi a maneira contida que o artista conduz a sua representação: em nenhum detalhe da cor, das situações ou da tipologia há folclorização gratuita. Seu elenco não aspira ao pitoresco estereotipado, mas se move com a graça viva da autenticidade. Aquilo que, na fisionomia ou na postura de algum personagem, suscita nosso olhar mais cúmplice pertence intricicamente àquele personagem ou àquela situação. E é exatamente esse rigor que o faz, tanto quanto um amoroso memorialista, um cronista implacável.
E implacável aqui não tem nada a ver com a aridez da isenção: ao contrário, dotado de uma ironia que, por ser discreta, não é menos lúdica é que ele se debruça sobre a aparente banalidade do dia-a-dia, sabendo extrair dela os mil e um registros de uma fabulação verdadeiramente mágica. Nela, familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos desdobram-se numa tipologia inconfundível. Esse instinto de encenador ( e mais um apreciável domínio dos meios, marcadamente a cor ) é que lhe permitem encontrar o tom exato desse teatro de parentescos e vizinhanças; de camaradagens e parcerias; meio memória, meio ironia, meio indulgência.
Girando em torno desse eixo afetivo, a ficção pictórica de Lula Nogueira dá-se a ler como amplo painel do homem de sua terra, colhido em sua rotina mais corriqueira. Essa ausência de drama e esse escrupuloso evitamento de sua banalização pelo pitoresco parecem-me atender a dois níveis de auto-exigência.
Primeiramente, no plano representacional, corresponde a um enxugamento da fábula, preservando-a do chavão dos sotaques forçadamente regionais. E por isso ele consegue ser legitimamente um pintor do seu aqui e do seu agora, na medida em que se recusa a oferecer de ambos uma visão convencionalmente tipificadora.
Em seguida, no plano estético, onde há a considerar seu tratamento da figura, que é de um esquematismo voulu, sendo seus melhores momentos aqueles em que se apresenta mais despojada, como que fazer lugar, na contemplação do quadro, para os exercícios e achados do olhar exigente. Por aí ele atinge uma modernidade essencial, próxima da Bad Painting e da Arte Povera.
E justamente porque não procura o pretexto de um drama para vestir seus personagens, ele o encontra nesses gestos e posturas, nessas expressões e nesse olhares ( a respeito destes últimos vem-me à mente ninguém menos que Daumier ) da maneira mais espontânea.
Ou seja, pelo fato de retratá-los em sua circunstância habitual, não buscando efeitos de dramaticidade, tipicidade ou simbologia, o pintor consegue fazer fluir,através dessas figuras, uma estranha tensão de Teatro do Absurdo. Um sartreano absurdo, inerente à condição humana, que talvez um descuidado primeiro olhar não chegue a colher, envolvido que certamente estará pela sedução das soluções plásticas,originais e surpreendentes, de quadro a quadro.
Para além delas, porém, a reclamar toda nossa capacidade de analogia e mimese, pulsa o texto de um tempo e de um lugar, dito por um de seus artistas mais sensíveis.


RUY SAMPAIO