domingo, 15 de março de 2009

MACEIÓPOLIS / MACEIOCA / MACEIÓTIMA ou o vivartismo insulado de Lula Nogueira

MACEIÓPOLIS / MACEIOCA / MACEIÓTIMA
ou o vivartismo insulado de Lula Nogueira


Ricardo Maia


A obra de Lula Nogueira (1960-), artista-pintor maceioense, é hoje matriz de identidade alagoana. Situando-a em um contexto social mais amplo, ou globalizado, pode-se dizer que ela realiza um movimento dramático de fuga e mal-estar na pós-modernidade.
O que, de maneira alguma, por isso, decresce o seu valor mediante o atual processo de emergência de novas formas de representação artística que se desenvolve em Alagoas. Muito pelo contrário, enfatiza a significância do artista, o caráter dinâmico de suas representações e o desenvolvimento de linguagens artísticas divergentes.
É nessa perspectiva que Lula Nogueira faz a diferença e se constitui numa exceção marcante, pois contraditória ou mesmo hostil ao referido processo – mas nunca antidialógica. E a faz com profundo sentido de outridade que atinge em cheio, e de forma reflexiva, a sociedade alagoana atual. Uma outridade repleta de substância simbólica em meio a uma cultura que celebra a ausência de sentido para alimentar, charmosamente, uma espécie de neurose ideológica ou forma de poluição mental.
Decorrem dessa firme atitude do vivartista, portanto, os poderes figurativos e a força da informação contidos em sua obra a nos evocar a memória. É quando, então, somos estimulados por ela a reencontrar Maceió. Para quê? Para torná-la visível e sabermos como ela cria e transforma a sua atmosfera sócio-histórica.
Tudo isso com a finalidade de conhecê-la e entendê-la melhor em sua especificidade cultural; ou seja: em seus espaços públicos e privados memoráveis, mas já olvidados pela maioria, com seus diferentes personagens urbanos – além, é claro, de suas minorias ou classes sociais presentes em seu cotidiano vasto. Daí porque o artista é reconhecido hoje como “o intérprete da província” (Janayna Ávila, 2008).
Essa busca por um tempo perdido na Maceió de ontem, ou que está se perdendo na de hoje, já vem se manifestando na obra de Lula Nogueira desde a inauguração da Galeria Grafitti, em junho de 1981, quando o artista realizou nesta a sua primeira exposição individual com sucesso.
É assim que ele legitima, através de sua obra, o conhecimento e a crença no local; ao passo que, nesta, estabelece a coerência da informação sobre a “cidade sorriso” e os seus habitantes. Procedimento este que o faz esboçar, como resultado, uma nova imagem de sua realidade historicamente localizada.

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